Os Lavradores - Grande Reportagem TVI de 18 de Maio de 2009

A TVI deu um péssimo contributo de cidadania à opinião pública ao mostrar exclusivamente, na sua Grande Reportagem de ontem, denominada "Os Lavradores", o lado negativo da agricultura portuguesa. Será que só os problemas e os desajustamentos dão audiências? Paralelamente, mostrar o sucesso não incrementaria o número de telespectadores? Provavelmente não...
Seria desejável que nesta altura de crise a TVI também focasse o lado positivo dos agricultores: os que investem, que criam emprego qualificado, que têm sucesso, que exportam e que criam riqueza.

O abaixamento da mão-de-obra agrícola em si mesmo não é um indicador negativo (29% entre 2001 e 2008), pois a criação de riqueza pela agricultura pode não ter baixado e se tal aconteceu, certamente que não foi na mesma proporção.

Os nossos agricultores são os mais envelhecidos da União Europeia, mas com as actuais ajudas para a Instalação de Jovens Agricultores (40000 euros de prémio de 1.ª instalação, mais 5% de incentivo não reembolsável nas ajudas ao investimento, maiores apoios nas ajudas ao rendimento, etc.) tenho a certeza que em 2013 este índice estará ultrapassado, pois o que exigem é que o jovem seja empresário (pode exercer outra actividade profissional) e não agricultor a tempo inteiro (não precisa que mais 50% do seu tempo e do seu rendimento provenham da agricultura). Estas condições estão a contribuir para que muitos agricultores passem a gestão da exploração para os seus filhos, os quais, trarão novas ideias, novas técnicas de gestão, nova vontade de lutar e ter sucesso neste segmento da actividade económica. Por outro lado, a crise no emprego e na economia estão a gerar motivação para que os jovens agrarrem o mundo rural como uma oportunidade de negócio em época de incertezas ("a comida será sempre um bem com procura", "a agricultura é um sector de actividade económica menos concorrencial" e "qualquer cultura bem feita e com dimensão perto da economia de escala gera potencial para que uma família se sustente e viva de forma digna").

"Portugal continua a importar praticamente tudo o que consome", pois trata-se do resultado da ausência de política própria para a nossa agricultura. Importamos cegamente as políticas de Bruxelas, não fizemos o trabalho de casa, não fomos por esse mundo fora ver como fizeram os outros países que estão mais desenvolvidos que o nosso, que passos deram, que erros cometeram, que estratégias implementaram. Deveriamos importar os modelos ajustando-os à N/ realidade. O que eu e outros fizemos no kiwi é um exemplo do que deveria ser feito nas restantes fileiras. Mais que tudo esta estratégia deveria ser feita e promovida pelo Estado e não por privados como é o nosso caso (como o Estado não faz cumpre-nos a nós exercer o dever cívico de contribuir de forma desinteressada para o bem público).

Os pequenos agricultores estão a desaparecer porque a realidade do mercado assim o obriga. O cooperativismo não tem à mão os instrumentos concretos para concentrar a oferta e fazê-la chegar aos mercados. Por exemplo, uma cooperativa que queira contrair um empréstimo bancário tem que o fazer com o aval pessoal dos seus directores, os quais podem sair dos cargos por decisão da Assembleia Geral, mas só podem deixar de responder com os seus bens pessoais se os empréstimos forem pagos ou se os bancos aceitarem a sua substituição pelos dos novos directores. As cooperativas deveriam ser obrigadas por lei a terem as suas contabilidades auditadas por revisores oficiais de contas tal como as Sociedades Anónimas, terem um fundo público que prestasse garantias aos bancos, isentado os directores de darem avais e terem contrapartidas em ajudas específicas e majoradas para os seus investimentos e actividades. Estas ajudas adicionais não seriam uma benesse, mas uma contrapartida pelos custos adicionais de trabalharem/prestarem serviço a elevado número de pequenos agricultores, bem como das pequenas quantidades das produções que recepcionarão de cada cooperante.

Os que me conhecem realmente sabem que tenho ideias e que possuo estratégia para fazer muito melhor que os responsáveis políticos dos últimos vinte anos. Tenho a certeza é que não enriqueceria e nem seria "politicamente correcto"!

Comentários

JA disse…
Em linhas gerais, subscrevo!
André Rebelo disse…
Já tinha visto esta entrada já faz uma semana, mas só agora é que tive um tempinho para a ler.

Eu só vi um pouco da reportagem, mas do que vi, concordo consigo. A TVI exagerou com os testemunhos que mostrou.

O meu caso, por exemplo, começou com o meu pai e agora tenho pouco mais que 5 ha de Kiwi. Com lucros razoáveis e pretendo alcançar um pouco mais, visto que o pomar mais novo ainda não está em plena produção.

O que quero dizer, como já foi dito, é que a agricultura não é só desesperos, mas (na maior parte dos casos) receitas.

Foi um bom "post".

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