O Estado Português demite-se da sua função de regulador das relações económicas

O Estado Português não se pode demitir da sua acção de regulador nas relações comerciais entre os agricultores, as suas organizações e a Grande Distribuição Organizada. Esta tenta controlar a estrutura de custos dos agricultores e da Agro-indústria para fazer reverter para si a maior parte do valor criado ao longo de cada uma das fileiras. Parece-me que o relacionamento está a chegar perto do limite do tolerável porque há fornecedores que são remunerados praticamente pela mão de obra, não sobrando qualquer valor para remunerar os riscos. Quando estes aparecem o agricultor ou a sua Organização não têm capacidade financeira para continuar a produzir.


Quando a Autoridade da Concorrência auditar os contratos de fornecimento e as reuniões de negociação até à assinatura dos contratos, as relações comerciais serão mais equlibradas e justas (deverá controlar: as horas de espera dos fornecedores, as temperaturas das salas de espera, a marcação de todos os fornecedores para o mesmo período temporal, os leilões electrónicos tendo cauções de acesso muito desproporcionadas face aos valores dos fornecimentos em causa, etc. etc.).


Pela minha parte acho que também ajudaria a equilibrar as contas dos agricultores se fosse implementada a ideia que ontem um amigo me deu: proibir por lei as marcas próprias da Distribuição.

Comentários

Anónimo disse…
Subscrevo inteiramente!!

Um tema que acho que poderíamos desenvolver e ter em linha de conta no futuro, é a Agricultura Sustentável. Tenho poucas dúvidas que esta vai ser a direcção que teremos que seguir todos, visando não só o uso eficiente de todos os recursos, e sua a preservação (água e solo), e a certificação dos produtos segundo critérios de preservação ambiental(etapa seguinte à Biológica e/ou Biodinâmica). Veja-se o caso da Arábia Saudita, Israel, Austrália, Espanha e USA, pioneiros tecnologicamente mas com um gravíssimo problema, água e qualidade dos solos!! Será este um ponto forte NOSSO? Que modelo de desenvolvimento devemos seguir?

Pedro Sampaio
José Silva disse…
...
O que se faz na UE?
Creio que não estamos (mais) na situação de inventarmos soluções só para nós. O que se faz em Espanha? Esta/s proximidade/s não pode/m ser ignorada/s.
Anónimo disse…
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I) Os produtos agricolas nos canais/circuitos de distribuição optimizados percorrem quatro fases ...
1 - Produtor
2 - Intermediário
3 - Grande Superficie
4 - Consumidor

II) Com menor numero de fases é muito dificil fazer chegar os produtos aos consumidores.

III) Se aumentarmos o numero de intermediários, aumentamos o numero de fases e por consequência o preço ao consumidor. Deste modo diminuem-se os ganhos do produtor.

Do que foi dito anteriormente ...

- Primeiro: à primeira vista, pura e simplesmente parece-me ilegal proibir por Decreto as marcas próprias da Distribuição.

- Segundo: não haverá casos ( pelo menos pontuais ) em que as marcas próprias da Distribuição possam contribuir para a EFICIÊNCIA dos circuitos comerciais?

Alexandre
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José Martino disse…
Não invento nada, pois dizem-me que há países em que as marcas da Distribuição são proibidas.
Anónimo disse…
Mudemos ligeiramente de registo: recordem-se da enorme multa com que, quer nos EUA quer na Europa, a Microsoft foi punida porque no seu sistema operativo (o hipermercado), não eram dadas condições para uma concorrência leal entre os diferentes produtos presentes no mercado, tipo processado de texto, folha de cálculos, base de dados,... (os produtos de marca comercial) face ao pack de software incluído no pack Microsoft Office: Word, Excel, Access, Explores, MediaPlayer,... (a marca branca). O conceito é rigorosamente o mesmo, a lei idêntica, não é preciso investar nada e esse comportamento tem um nome conhecido de todos: abuso de posição dominante. Se a Microsoft foi condenada, porque não o podem ser a Sonae, a JM ou as outras operadoras da distribuição?
PP
Anónimo disse…
Conheço uma figura relevante na grande distribuição, e já tive interessantes discussões sobre este tema!! No entanto eles são peremptórios numa afirmação, quem decide o preço final é o cliente (através das suas curvas de consumo), eles limitam-se em ir ao encontro do desejo de "maior parte dos seus clientes". Bom, apresentável e barato!! Eis a formula do sucesso, será que é por acaso que os maiores crescimentos de vendas encontram-se exactamente nos produtos de linha branca, por exemplo. O produto será de qualidade....nem por isso, mas é apresentável, e os olhos compram!! Pode-se acabar com isto? Penso que não!! O "cliente tipo" quer pagar pouco, por isso acho que faz mais sentido apostar-se e seguir-se um rumo de excelência, diferenciação e da sua internacionalização. Veja-se o caso daquele x azeite que ganhou prémios internacionais, os morangos y biológicos para Inglaterra, os vinhos típicos z de alta qualidade para os USA, as flores ornamentais w de qualidade superior para a Europa do Norte, os kiwis k premium para Itália, etc, etc. Não faltam por aí exemplos que demonstram, que quem aposta na excelência e entende o funcionamento do mercado "safa-se".

Pedro Sampaio
Anónimo disse…
Estou de acordo com o comentário anterior assinado por Pedro Sampaio. No entanto, a exclusividade do Bom (mais ou menos), Barato e Apresentável não se limita às marcas da distribuição (até porque esses produtos são fabricados por um dada empresa, com essas características e, com margens comerciais não exageradas, chega a esse preço ao mercado). A questão da ilegalidade, como referi antes, está no facto de a distribuição ter acesso, usar em proveito próprio e beneficiar com isso as suas marcas face às de terceiros, dados que à luz da legislação da concorrência, qualquer operador está proibido de aceder e possuir.
No fundo, é um jogo de futebol em que uma das equipas é do árbitro, o qual, para além disso é a dona do estádio.
Pedro Pimentel
Anónimo disse…
Mas qual é a ideia que esta na base dos produtos da linha Branca ?? Preço mais nada!! Interessante de analisar o exemplo da Sonae, eles trabalham na gama branca com três sub-tipos, o base (é), um intermédio (modelo/continente) e um superior (selecção). Três segmentos distintos, três público alvos também distintos!! Porquê? Eles já não se limitam a vender a marca branca base para o "Povão", aquela com que todos nos acostumamos a lidar, mas dão indicações fortes que também querem os segmentos superiores....claro, com outros valores unitários!! Penso que a tendência será para alastrar cada vez mais a gama própria, e não o contrário.

Pedro Sampaio
José Martino disse…
O problema maior das marcas brancas/marcas da distribuição está no facto de manipularem as margens de comercialização em proveito próprio. Se os que não querem proibir por lei as marcas próprias de cada cadeia então dêem a possiblidade legal dos restantes fornecedores/produtores fixarem as margens de comercialização dos seus produtos. Assim as regras do jogo seriam mais justas!
Anónimo disse…
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Todos os comentários são bastante interessantes, mas é com o ultimo do Sr Pedro Sampaio que eu mais me identifico ...
Parece-me bastante realista e pertinente.

Alexandre
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Anónimo disse…
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Quando escrevi o comentário anterior ainda não tinha lido o ultimo do Eng Martino ...
Tem toda a razão, seria muito mais justo que os outros/restantes fornecedores/produtores pudessem fixar as margens de comercialização dos seus produtos.

Alexandre
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José Martino disse…
Com base nos comentários aqui realizados, o que podemos fazer para a Autoridade da Concorrência actuar e colocar o mercado a funcionar de forma equilibrada?
José Silva disse…
...
A questão da Microsoft é bem outra e tomáramos nós ser fornecedores do grupo (não consumidores) ;-)

O Sistema Operativo (Windows) não é o hipermercado nem as várias aplicações são marcas brancas.

Se o abuso (ilegalidade) em causa fosse semelhante... já as operadoras da distribuição teriam sido 'apanhadas': ou há alguém mais 'poderoso' que a Microsoft?

Se houver ilegalidade/s na distribuição, vamos denunciá-las?

As marcas brancas continuarão a existir, cumprem uma função no mercado, todos ganham com elas.

Quanto ao estabelecer margens... isso é outra questão e que convém esclarecer, para salvaguardar devidamente os interesses de cada actor na cadeia de valor.

A função comercial (marketing) faz parte do processo, com os famosos 4pês: Produto, Preço, Praça e Promoção. As outras 'faces da moeda' são 4 cês: Cliente, Custo, Conveniência e Comunicação.

O que não pode ser negligenciado é que produzir e comercializar são partes dum todo, com as suas regras e retornos.

Há acordos entre produção e distribuição? Vale a pena analisá-los.
Anónimo disse…
Os 4 P, bem conhecidos dessa malta da distribuição.
Product, Price, Place e Promotion que têm que ser na minha opinião, esmiuçados não quando a empresa já esta a laborar, mas AINDA quando esta em projecto, no papel. Muitos dos insucessos empresariais tem haver sobretudo pelo desprezo destes quatro pilares na formação de qualquer empresa. Mas verdade seja dita, além da ignorância neste aspecto por maior parte dos empresários, não podemos também desprezar o País burocrático que somos, a carga fiscal exagerada, os níveis de corrupção instalados que só vêm piorar isto tudo. No fundo muito deste ruído vêm do NOSSO contexto social, aliado a uma falta gritante de profissionalismo.


Pedro Sampaio

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