Cavaco e a agricultura

Está abaixo reproduzido o artigo que escrevi e que o Jornal i publicou na página 4 da edição do dia de hoje:

O Presidente da República surpreendeu tudo e todos com o seu discurso no Dia de Portugal. Havia os que esperavam uma análise mais ou menos subliminar aos resultados eleitorais; outros aguardavam um discurso de índole tecnocrática, virado para o que vem aí com a aplicação do memorando da “troika”; outros ainda, bem no íntimo, ansiavam por um ajuste de contas com Sócrates, depois da “campanha negra” que o PS patrocinou nas eleições presidenciais contra o próprio Cavaco.
Nada disso aconteceu. Humilde espectador atento a estas movimentações e jogos políticos, devo dizer que não me surpreendeu o discurso do PR. Cavaco é, acima de tudo, um político pragmático. Sempre o foi, ao longo da sua carreira política.
Sempre percebeu os sinais do tempo e sempre utilizou a seu bel-prazer os “timings” políticos com rara percepção e sagacidade, como a sua carreira o deixa perfeitamente entender. Em Castelo Branco, no interior do País, Cavaco falou do … interior do País.
No mesmo dia, o “Expresso”, publicava um seu artigo intitulado “Os Jovens Agricultores”. Foi um discurso e uma mensagem certeira, no tempo, no modo e no espaço. Com este discurso, Cavaco Silva colocou no topo da agenda política do próximo governo a resolução dos problemas do desenvolvimento agrícola e rural no interior do país.
O PR sabia o que fazia e porque o fazia, do alto do seu magistério de influência e sabedoria. A agricultura tem de ser um dos pilares do nosso futuro desenvolvimento económico. Já aqui, neste jornal, e noutros espaços públicos, tenho defendido que o próximo Governo tem de apostar a sério no sector agrícola e nos jovens agricultores.
Cheguei mesmo a lançar uma petição para a criação de um Banco de Terras, que depois teve desenvolvimentos parlamentares pela mão do Bloco de Esquerda, mas um Governo do PS autista e alheado da realidade acabou por boicotar, ignorando aquilo que já se faz aqui ao lado, na Galiza.
Mais recentemente, elaborei, com outras entidades, projectos de criação de um olival biológico, com consequente criação de riqueza e de milhares de postos de trabalho, que há meses continua esquecido no Ministério da Agricultura.
É tempo de mudar de paradigma. Cavaco Silva disse-o e ele sabe, geralmente, o que diz. O novo Primeiro-Ministro, Passos Coelho, tem de ter vontade política para resolver alguns dos problemas elencados pelo PR:
- o acesso à terra, que limita a dimensão das actividades nas explorações agrícolas, sobretudo nas regiões Norte e Centro;
- a concessão e disponibilidade de crédito bancário para apoio aos investimentos na agricultura e agro-indústria;
- a insuficiência de acompanhamento e apoio técnico;
- a burocracia do Ministério da Agricultura e dos organismos por ele titulados;
- a organização da comercialização, reforço da agro-indústria e do sector cooperativo, como meios de acesso ao mercado pelos produtos agrícolas dos micro, pequenos e médios agricultores.

Muitas das soluções para estes e outros problemas são fáceis de colocar em marcha sem aumento de custos:
- colocar o Ministério da Agricultura a tramitar os processos dentro dos prazos legais (obriga a que todo o Ministério tenha objectivos funcionando de forma eficaz e promoverá a eficiência nos processos);
- criar um banco de terras; majorar os apoios para investimentos nas regiões do Interior;
- promover projectos integrados, de fileira, estruturantes, com contrato-programa para desenvolver as regiões mais deprimidas;
- desenvolver o sector cooperativo; reestruturar a legislação do sector associativo;
- melhorar a formação profissional.
Cavaco falou, agora o novo Governo e o novo Ministro da Agricultura têm que por a máquina a funcionar, para que se recupere o tempo perdido.

Comentários

Anónimo disse…
.
Eu não votei PSD ( votei PS! ) mas espero que o governo dure os 4 anos e cumpra a legislatura completa ( exactamente como defendia quando o PS era Governo ).
O País não ganha absolutamente nada em andar todos os anos a brincar às eleições!

Em relação ao Cavaco Silva: é muito mais facil falar do que fazer.
Ele como PM teve muito tempo ( salvo erro, 10 anos ) para passar à prático aquilo que ( só!? ) agora se lembrou de dizer!

Mas o melhor é sermos pragmáticos e pensarmos sobretudo no presente e futuro de Portugal ...

Vitor Monteiro
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Anónimo disse…
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Eu não votei PSD ( votei PS! ) mas espero que o governo dure os 4 anos e cumpra a legislatura completa ( exactamente como defendia quando o PS era Governo ).
O País não ganha absolutamente nada em andar todos os anos a brincar às eleições!

Em relação ao Cavaco Silva: é muito mais facil falar do que fazer.
Ele como PM teve muito tempo ( salvo erro, 10 anos ) para passar à prático aquilo que ( só!? ) agora se lembrou de dizer!

Mas o melhor é sermos pragmáticos e pensarmos sobretudo no presente e futuro de Portugal ...

Vitor Monteiro
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