Qual o capital mínimo que devo ter para ser empreendedor agrícola?

Alexandre Gonçalves disse:

"Caro Eng. José Martino

O meu nome é Alexandre Gonçalves e sou dos arredores de Vila Real, Trás-os-Montes.

Agradeço-lhe toda a informação que ao longo dos anos tem vindo a disponibilizar através do seu blog.

Em linha com as perguntas frequentes, e ultimamente cada vez mais frequentes, venho também pedir a sua opinião sobre a possibilidade de focar, de uma forma sustentável, a carreira profissional na agricultura.

Para este efeito tenho algumas questões:
1- Como sabe aqui no interior norte é frequente a divisão dos terrenos agrícolas em parcelas pequenas que variam entre os 800m2-5000m2. Sei que estas são áreas ridiculamente pequenas mas é o que está disponível. Penso que seria possível entre parcelas próprias e outras que estão abandonadas (e sujeitas a ser arrendadas por valores muito baixos) cuidar de 1,5 a 2ha. Será possível trabalhar com estas condições?

2- No entanto, quando temos parcelas pequenas mesmo que exista muita disponibilidade de água em algumas, não é viável construir reservatórios/furos/poços em todas as parcelas. É possível/sustentável realizar regas através de depósitos móveis (p.ex: acoplados a motores de rega nos tratores)?

3- No interior temos também as condições climatéricas adversas que diminuem a diversidade na escolha das produções. Com estas parcelas pequenas, e restantes dificuldades, será viável a produção de PAM, talvez até apenas uma ou duas culturas específicas que saibamos à partida que possam triunfar nas nossas condições (p.ex lavandula)?

Por ultimo, a questão dos fundos próprios que neste caso são inexistentes! Já li o seu post "Não há fome que não dê em fartura!". Na sua opinião, os apoios 2014-2020 serão melhores para quem tem dificuldade no início por falta de capitais próprios?

Obrigado.

Abraço,"

Comentários:
1 - A sustentabilidade económica e financeira de uma exploração agrícola, tal como de qualquer negócio ou empresa está muito ligada ao perfil do empresário, isto é, ter vocação para o negócio, competência adquirida ao longo do tempo por ser uma pessoa estruturalmente curiosa, estar disponível para pagar os custos e sacrifícios pessoais da aprendizagem permanente, ter perfil como pessoa organizada ou não o tendo ser capaz de escolher um colaborador para braço direito, ter perfil para "levar a carta a Garcia" (persistência e resiliência), etc.

2 - Se as condições de parcelas que possui estivessem situadas no Minho ou na Beira Litoral, diria sem muitas dúvidas que seria possível implementar uma exploração agrícola rentável, mas para a região de Vila Real recomendo que sejam vistas por um técnico agrícola especializado em investimentos na agricultura. No entanto, creio ser possível trabalhar nas condições indicadas, terão de serem escolhidas atividades mais intensivas e de maior rentabilidade por unidade de superfície.

3 - Não me parece prático e viável andar a transportar com trator  e cisterna, água de forma permanente e contínua, ao longo dos anos. Creio que devem ser avaliados os custos de captação e armazenamento, assim como as ajudas que o Proder pode veicular para baixar o investimento.

4 - Deve elaborar um plano de negócios, mesmo que sumário, para as atividades que possa desenvolver na sua futura exploração. As PAM serão uma das alternativas a equacionar.

5 - Se não tem capitais mesmo próprios ou de alguém de família que lhe possa emprestar, defendo que não deve fazer sozinho investimentos na agricultura sob pena de à frente vir a ter que desistir do investimento. Na minha opinião deve ter 15% do investimento total financeiro (investimento para efeito do Proder + IVA + fundo de maneio para investimento e exploração da atividade até equilibrar a tesouraria) em capitais próprios  para poder vir a ser um empreendedor com sucesso nos seus negócios (nestas condições a banca irá apoiá-lo porque necessitará de mais capital do que aquele que possui). Se tiver um bom plano de negócios pode conseguir um investidor que o apoie como sócio.

6 - Há quem defenda que no próximo período de ajudas 2014-2020, o sistema de apoios dê a possibilidade de financiar todas as necessidades financeiras do jovem agricultor como indicado em 5., tendo este a responsabilidade de as devolver.

7 - Quanto ao indicado em 6. defendo que o sistema atual deveria continuar embora com melhorias e  upgrade para ultrapassar as deficiências no caso dos jovens sem o capital mínimo para investir. Defendo que o jovem deveria ganhar competências técnicas e de gestão durante um ano, juntando formação profissional e estágios em explorações agrícolas, sendo remunerado com um salário mensal se tivesse aproveitamento na avaliação contínua e no final desse período apresentaria o seu plano de negócios (trabalho escrito) e teria uma avaliação oral realizada por uma entidade externa à que promoveu e deu a formação (ex. DRAP). Com o seu plano de negócios certificado este seria o seu projeto para ajudas do tipo Proder e para apoio através de capital de risco/banca/garantia mutua, etc. O jovem/empresa do jovem teria uma figura de patrono/sócio/capital de risco que o acompanharia durante 5 anos assessorando-o na gestão, organização, necessidades, problemas, etc. Esta figura será responsável por relatório de auditoria e explicação dos resultados contabilísticos, bem como pela manutenção das ajudas ou mesmo pelo seu reforço caso seja necessário.

8 - Recomendo-lhe que trabalhe ou estagie em explorações agrícolas de sucesso para obter capital ou massa critica para o seu negócio agrícola.     

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