Considera uma boa opção complementar o Mirtilo com a Groselha?


"Sr. Eng. José Martino,
Continuo com algumas dúvidas sobre a cultura a produzir em Baião no âmbito do programa “Inst. Jovens Agricultores-PDR2020". O excesso de informação (pesquisada) está a baralhar-me; há opiniões para todos os gostos!! Não saberei antecipadamente se tenho aptidão/vocação para esta ou aquela cultura porque não tenho a experiência necessária na área agrícola. Penso que a questão principal que preocupa qualquer iniciado é a rentabilidade versus investimento; todos querem ganhar dinheiro e eu não fujo à regra. Sou empreendedor, competente e dedicado em tudo o que faço na vida, mas quando se trata de arriscar num campo que não se conhece é sempre um "tiro no escuro". Finalmente optei por um terreno com 3,7 hectares. Estou inclinado para culturas em campo aberto (ar livre) e que não exijam disponibilidade a tempo inteiro, mas que constituam uma boa fonte de rendimento, como é o caso de alguns pequenos frutos. Vou excluir os Kiwis devido à pequena dimensão do projeto em termos de área. Amoras, Morangos e Framboesa não cumprem os requisitos de disponibilidade atrás enunciados; sobram os Mirtilos e as Groselhas que em termos de adaptação ao terreno e rentabilidade me parecem os mais adequados, com base nas minhas pesquisas, sendo que as Groselhas atingem valores de mercado mais altos em relação aos Mirtilos. Outro aspeto a ter em conta é que no concelho de Baião, entre projetos implementados e projetos em desenvolvimento podemos apontar para sensivelmente 150 pequenos produtores com área média de cultivo de 2 hectares, no curto/médio prazo, sendo que 70% desses projetos se reportam ao Mirtilo. Quero apostar em duas culturas para diversificar o risco(Mirtilo e outra). Considera uma boa opção complementar o Mirtilo com a Groselha ou sugere outra cultura? Que tipo de "manutenção" exige a groselha?"

Comentários:
1 - Caro leitor, é altamente arriscado tomar decisões empresariais com base exclusiva na informação recolhida na internet. Se não tem experiência para tomar decisões por favor não as tome porque irá arrepender-se. Recomendo que faça visitas de estudo durante três meses e após este prazo tome uma decisão sobre as atividades agrícolas em que irá empreender.

2 - É uma falácia o raciocínio apresentado: "Penso que a questão principal que preocupa qualquer iniciado é a rentabilidade versus investimento; todos querem ganhar dinheiro e eu não fujo à regra."
a) Para ganhar dinheiro na agricultura é preciso paixão e competência pelas atividades que se desenvolvem.
b) É perigoso buscar de forma exclusiva a "rentabilidade versus investimento". Um exemplo: ainda esta semana tive uma discussão com um dos meus sócios jovem agricultor porque é preciso perfil pessoal para se melhorar na atuação, na capacidade para vencer impossíveis e estar aberto a reinventar o seu comportamento, pois ao fim de alguns meses de implementação dos investimentos verificou ser necessário estar todos os dias, meses a fio, fechado dentro de uma estufa a "comandar tropas", com inúmeras tarefas que têm de ser implementadas simultaneamente. Resultado, os pequenos pormenores de gestão do dia a dia estão a falhar, não se fazem em tempo útil, na melhor oportunidade técnica, a gestão da mão de obra na colheita, condição essencial para se terem custos competitivos e obter rentabilidade, começa a dar sinais que não melhora a cada dia que passa. Enfim, todos querem rentabilidade mas esquecem-se dos ossos de oficio de cada uma das atividades. Conclusão, o ganhar dinheiro parece estar cada vez mais distante apesar da rentabilidade potencial intrínseca dessa atividade ser das mais elevadas. É muito importante cada empreendedor transformar o potencial em real, em adquirido.

3 - Concordo com a sua opinião de que "investir é um tiro no escuro", por isso, deve minimizar o risco  do que dependa si próprio como empresário sendo competente e dedicado. O ponto chave está no processo para se atingir a competência. Como o pensa fazer?

4 -  As groselhas são uma excelente cultura se tiver operador comercial que as valorize porque o seu mercado mesmo potencial é muito pequeno e por isso, existe um risco real de desaparecimento do mercado caso se ultrapasse determinando nível quantitativo global de produção. Por outro lado, é uma cultura que exige conhecimentos técnicos específicos, muito dependente da realização de cada uma das operações culturais na melhor oportunidade técnica, na hora certa, pois caso contrário, não conseguirá produzir e não conseguirá pagar os custos de produção.

5 - Na minha opinião os 300 hectares de mirtilos que diz existirem no concelho de Baião não representam excesso de produção. No entanto, acredito que muitos desses 150 produtores irão ter problemas quer na produção, quer na comercialização porque muitas dessas plantações não estão dimensionadas para serem mecanizadas, não possuem sistema de rega e fertirrega automatizados, têm variedades sem interesse comercial, não estão ligados a organizações de comercialização, não têm assistência técnica organizada, etc. etc.

6 - Em síntese, é boa opção ter na mesma exploração mirtilos e groselhas desde que esteja ligado a um operador comercial/organização de produtores (exemplo: Bfruit), se o terreno em causa tiver aptidão para as culturas, se forem bem implantadas e bem cuidadas.

   

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