Artigo Publicado na Edição 300 da Gazeta Rural (revista publicada no dia de hoje)

Questões sobre a fileira dos vinhos do Dão*

É meu objetivo no presente artigo contribuir para o debate e melhoria da massa critica na fileira dos vinhos do Dão. Na minha opinião e na qualidade de apreciador de vinhos, busco novas marcas, novas propostas, a região demarcada do Dão, pelas suas caraterísticas de solos, climas, castas e saber fazer dos seus players, viticultores, vinificadores e comercializadores, produz dos melhores vinhos de mesa de Portugal. A região tem potencial a longo prazo, para liderar de forma inequívoca, reconhecida, traduzida em prémios, comunicação, turismo, valor acrescentado, riqueza distribuída por toda a superfície regional, a liderança e o topo da qualidade fantástica dos vinhos de Portugal.
É minha convicção quem produz uvas terá algumas dificuldades, pelo que, a 1.ª questão que coloco é sobre a rentabilidade da produção de uvas, ou seja, quem é exclusivamente produtor de uvas, o viticultor, a base da cadeia, tem a rentabilidade intrínseca para o efeito? Tem condições e incentivos no valor como as uvas são pagas, para que o seu maior esforço na qualidade, rigor, determinação, colocadas no terreno, na parcela, na videira, se traduzem em maior valor financeiro? O empresário vitícola é suficientemente reconhecido pelos compradores/valorizadores das uvas e pela sociedade pelo seu esforço e sacrifício? Vale a pena fazê-lo? Em síntese, é negócio ser exclusivamente produtor de uvas? É uma mais valia que dá para sustentar a família de forma digna e sustentada no tempo? Ou pelo contrário, para obter a justa valorização do seu empenho o viticultor tem que ser simultaneamente vinificador, transformar-se na entidade que faz e mais do que isso, comercializa o vinho? Tem necessidade para sobreviver de se apropriar da margem do elo seguinte da fileira?
Deixo as questões para reflexão dos membros da fileira dos vinhos do Dão e da sociedade em geral: O que fazer para melhorar o negócio da produção de uvas? O mercado funciona em função da oferta e valoriza o incremento na qualidade das uvas?
Continuo com 2.ª bateria de questões sobre os restantes elos da fileira dos vinhos do Dão: será o negócio da vinificação gerador de maior margem líquida que a produção? Há equilíbrio e funcionamento de mercado entre produzir uvas e transformá-las? Ou, quem concentra as produções apropria-se de forma desequilibrada da margem financeira? Ou sendo esta última interessante, podem os players da vinificação existirem de forma autónoma o 3.º elo da cadeia, o conjunto das entidades que só comercializam o vinho? Ou é mais eficaz, gera melhor resultado económico, quem vinifica distribuir os vinhos? 
Coloco esta bateria de perguntas porque a verticalização no negocio das uvas e do vinho, fenómeno que acontece à escala mundial, que se verifica nas principais regiões vinhateiras de Portugal e representa uma incorporação da atividade dos players da fileira, isto é, à medida que o tempo passa, começa na comercialização a qual reunifica com a vinificação e posteriormente, caminham para colocar a vinha e a produção de uvas na mesma entidade, ou seja quem distribui e comercializa vinhos também os industrializa e produz, tira partido das economias de escala, das ajudas públicas, da imagem junto de mercado de serem produtores. Em Portugal verifico nas diversas regiões vinhateiras o esmagamento da margem financeira do conjunto muito alargado de micro, pequenos e médios viticultores seus fornecedores, seja na valor das produções, seja nos prazos de pagamento. Este rolo compressor não é muito notado pela sociedade porque são muito generosas as ajudas públicas à plantação de vinhas, ao desenvolvimento da fileira e à promoção internacional dos vinhos.


*José Martino - CEO da “Espaço Visual” e da “Ruris – Desenvolvimento” 

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