REVISTA DE IMPRENSA

BEIRA INTERIOR APOSTA NO VALOR ACRESCENTADO DO AZEITE BIOLÓGICO
Já se sabe que agricultura biológica gera produtos mais saudáveis. Há quem esteja disposto a pagar para poder consumir bens conseguidos através de métodos ecologicamente sustentáveis e a Associação de Agricultores para a Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM) já percebeu essa tendência do mercado, propondo-se levar a cabo na Beira Interior um projecto de olivicultura em modo de produção biológica (MPB). Até 2013 será preciso investir 126 milhões de euros para conseguir ter dez mil hectares de olival em MPB, a partir dos quais será possível gerar um volume de negócios de 46,8 milhões de euros.
Quase não levam produtos químicos e, à falta de gente, a natureza é, por ali, quem mais ordena. Mas os mais de 50 mil hectares de olival da Beira Interior não cumprem as regras da agricultura biológica. É agricultura "abandonológica", cataloga o presidente da AAPIM, José Assunção, empenhado em mudar o retrato regional de uma fileira considerada prioritária no Quadro de Referência Estratégico Nacional. Assunção já mostrou ao ministro Jaime Silva as linhas mestras de um projecto que, espera, deverá ter o apoio do Programa de Desenvolvimento Rural, sem o qual, aliás, dificilmente será concretizável, já que implica investimentos avultados e um período inicial, que pode ir dos três aos cinco anos, sem que a produção compense.
"Se houvesse classificações PIN [os famosos Projectos de Interesse Nacional do actual Governo] para a agricultura, este projecto merecia ser um deles", atira o presidente da AAPIM, sem arrogância, antes ambição, na voz. É que o plano desenhado pela Espaço Visual, uma empresa de consultoria agronómica, prevê nos 24 concelhos da Beira Interior a instalação de 10 mil hectares de olival em modo de produção biológica, cinco mil dos quais de novas plantações. A outra metade provirá da reconversão de olivais existentes, nos quais dominará a Galega, a variedade de oliveiras na qual todo o projecto se apoia.
A Espaço Visual assinala que, no mercado, o azeite de denominação de origem protegida (DOP) da Beira Interior pode ser vendido a um preço 150 por cento superior ao de um azeite extra virgem corrente e, consciente desse valor acrescentado, admite ser possível ir mais longe, apostando num DOP monovarietal, apenas recorrendo à azeitona galega. Azeite cujo destino principal será a exportação (60 por cento).
O projecto assume-se também como uma tábua de salvação para o mundo rural na Beira Interior, uma vez que a produção de olival em MBP de dez mil hectares implica toda uma série de passos que poderão, prevê-se, criar 2500 postos de trabalho: para apoio às candidaturas a fundos, o plantio ou a reconversão de olivais - que implicarão investimentos em regadio e a densificação das culturas, para 300 plantas por hectare - para o controlo fitossanitário preventivo e curativo, para as visitas técnicas - que a AAPIM garantirá a todos os produtores envolvidos. E também para as podas e colheitas, já que o plano prevê que a produtividade média passe das actuais 1,5 toneladas por hectare verificado entre os sócios da AAPIM para cinco toneladas por hectare.
Para fases como as da poda e da colheita, a AAPIM pretende criar empresas prestadoras de serviços que possam trabalhar com os proprietários, garantindo uma homogeneidade nos métodos e na qualidade da azeitona recolhida. E o projecto prevê ainda um investimento adicional na construção, faseada, de três lagares certificados para MPB, que em 2013 possam transformar 600 toneladas de azeitona por dia. Resta convencer os proprietários da região - muitos deles idosos, outros já afastados das suas terras e outros ainda descapitalizados pelas sucessivas quebras de rendimento - a aderir a um projecto que lhes promete sucesso, mas exige comprometimento e dedicação. José Assunção não está, contudo, muito receoso. "Os nossos agricultores estão motivados. Eles já perceberam que, na actual situação, é que não vão lá", garante.

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