"Criadores" vs empreendedores



Os “criadores” de negócios agrícolas
José Martino
Consultor agrícola
Quando estava a preparar a elaboração deste artigo, ouvi na televisão Bagão Félix, ex-ministro das Finanças, dizer que não gostava da palavra “empreendedorismo”, preferindo a palavra “criar”, “inovar”, “inventar”.
Dizia isto enquanto apresentava como boa notícia do dia uma criação ou invenção de um “empreendedor” jovem português. Como disse no início, estava a elaborar este texto quando ouvi isto da boca de Bagão Félix.
Ora, a minha intenção era falar do “empreendedorismo agrícola”. Hesitei logo em usar a palavra. Depois pensei que a palavra “criar”, mais curta e fácil de pronunciar, talvez faça mais sentido.
Vou, por isso, seguir a opinião de Bagão Félix e passar a utilizar a expressão “criar negócios”, em vez de “empreendedorismo”. Na verdade, é disso que se trata, de criar negócios. E é isso que falta a Portugal.
As razões são muitas e variadas. Desde uma cultura económica e financeira muito dependente do Estado, até uma aversão ao risco, à criação e à inovação que está nos nossos genes. É, por isso, preciso romper com este “status quo”.
Temos de obrigar todos os agentes agrícolas a colaborar nesta mudança de paradigma na agricultura portuguesa. Muitos estão a fazê-lo no sector privados, jovens e menos jovens  agricultores estão a criar novos negócios, a aproveitar novas oportunidades, a inventar novos produtos e novos mercados.
É fundamental que o sector público acompanhe esta torrente de ideias, estratégias, projectos e negócios que estão a contribuir decisivamente para as exportações e para o aumento do PIB agrícola.
Deixo aqui um conselho e um desafio aos responsáveis políticos do Ministério da Agricultura: colocar o GPP (Gabinete de Planeamento e Políticas), uma estrutura dependente deste Ministério, a elaborar planos estratégicos de fileira das atividades agrorurais.
O GPP, que devia assumir um papel de “think tank” para a agricultura nacional, tem recursos humanos e financeiros, tem experiência na negociação dos quadros comunitários com Bruxelas. Deveria pensar, reflectir e propor linhas de orientação e princípios “macro” para osresponsáveis políticos e agentes que trabalham na agricultura em Portugal.
É necessária esta visão de futuro, estratégia e de longo prazo, fazendo o levantamento dos pontos fortes e fracos de cada fileira e traçandoplanos de ação para se atingirem objectivos previamente definidos.
Tal devia ser o principal trabalho do GPP e nele focar toda a sua energia. Este trabalho é fundamental, como “guia de orientação”, para todos os “criadores” que querem lançar o seu projecto e elaborar o seu plano de negócio e de investimento.

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