O que faria na nossa situação?

Margarida disse:

"Boa tarde,
A família cultiva terras (cebola, alface e tomate) na zona da Povoa de Varzim, e infelizmente, tememos que este modo de vida esteja no seu limiar.
O ciclo vicioso comerciante/armazenista/intermediário, sufocou completamente o agricultor.
Vejamos o exemplo da alface: Preço agricultor 0,20/0,15cent. - Preço consumidor final 1,50.
É certo que todos precisamos de viver, mas é gritante o que nos fazem!
As minhas questões:
1 – Como contornar esta situação?
2 – O futuro passará pelo o cultivo de outros produtos?
3 – O que faria na n/situação?

O nosso muito obrigada."

Comentários:

1 - Agradeço as questões que me coloca, as quais são um desafio muito interessante para quem gosta de estratégia.


2 - A distribuição do valor ao longo da cadeia de distribuição é um problema político muito complicado e complexo para o qual espero que atual ministra da agricultura venha a tomar medidas. Quem tem força como a atual distribuição organizada em que duas cadeias têm uma quota de mercado superior a 60%, exerce o poder que tem e fica com a maior fatia da remuneração.


3 - O que eu faria se fosse responsável político? Utilizaria o diálogo e a magistratura de influência da liderança política para levar as partes na cadeia de distribuição a acordos voluntários em negociações de fileira. Só no caso de ser todo impossivel um acordo como indicado atrás, faria uma lei para impedir que cada cadeia ou grupo de cadeias não pudesse ter uma quota de mercado superior a 20%. Colocaria o valor mais baixo da multa para vendas abaixo do preço de custo acima de alguns milhões de euros (atualmente é de 30 000 euros). Estudaria um sistema para que cada elo da cadeia fosse pelo menos remunerado para cobrir os seus custos de produção e com uma margem bruta proporcional ao risco assumido. Montaria uma estratégia para "abanar o sistema" e utilizaria a imaginação para encontrar soluções. Faria experiências e promoveria a mudança.


4 - A comparação de preços que me coloca entre a remuneração do produtor e os preços que paga o consumidor se for fria e racional sem atender ao contexto da produção agrícola pode ser falsa e facciosa, o que realmente não é o caso. Passo a explicar o meu raciocinio utilizando uma história que costumo contar muitas vezes sobre a personalidade e a maneira de estar na vida de um português. Um amigo muito próximo propõe-me um negócio: "vais produzir o produto X que eu compro a quantidade e ao preço de 10 por unidade. Com este produto vou fornecer um cliente que tenho ao preço de 50 por unidade". A minha resposta será: "ficaremos com valor igual ou não te vendo para não ganhares mais do que eu, pois eu sou o produtor". Na realidade a análise correta da minha parte seria verificar se o valor que o meu amigo me paga é interessante para cobrir os meus custos de produção e gerar uma margem rentável, pois se não concretizar o negócio não terei a possibilidade de ganhar. Assim, a questão é:  a alface sendo paga ao agricultor a 0,20/0,15 cêntimos/kg é rentável ou não? Cobre os custos de produção e gera margem? Ou reformulando a questão: como ganhar dinheiro com alface  a 0,20/0,15 cêntimos/kg? Claro que um bom português vai verificar o preço de venda ao público e quando verifica enorme margem entre os preços, fica a lamentar-se porque está a "ser roubado" pelo comerciante e pela distribuição. Cada vez mais tenho maior admiração pelo meu amigo "Norberto Pires da Hortijales" pela sua clareza e coragem, porque se recusa a vender os seus hortícolas abaixo do preço de produção, prefere enterrá-los com a freza e se todos fizessem como ele a horticultura seria um negócio muito interessante. Pelo contrário,  verifico que o horticultor vende a qualquer preço, não sabe e não controla os seus custos de produção, não controla os seus encargos, ajusta em alta os seus custos de produção e outros, sobretudo nas fases em que o negócio tem maior rentabilidade, esquecendo-se dos ciclos económicos, virá um tempo em que o que hoje tem preços altos, terá valorizações mais baixas (para mim é lapidar o exemplo da fileira do leite quando o preço do litro esteve a 40 cêntimos, margem bruta muito alargada, compraram-se máquinas e equipamentos a crédito, fizeram-se investimentos megalómanos, créditos à habitação, etc. etc. Quando o preço desceu para menos de trinta cêntimos não há capacidade de ajustamento. Nesta fileira tenho admiração pelo meu amigo Fernando Santos da Casa de Malta, investimentos controlados na fase de alta rentabilidade e contas com controlo de custos nos dias de hoje, resultado ganha menos, mas continua a ter uma atividade rentável. Por outro lado, está a construir uma alternativa dedicando-se com rigoroso controlo de custos à produção de kiwis).


5 - Brainstorming / desafio aos meus leitores, responder à questão: como ganhar dinheiro com alface a 0,20/0,15 cêntimos/kg?
Pela minha parte irei escrever um outro post dando a minha resposta à questão



6 - Resposta direta às questões da minha leitora Margarida:
1 – Como contornar esta situação?
Incrementar a produtividade para ser interessante vender aos preços de mercado. Registo férreo de todos os custos e encargos para verificar se na hipótese anterior tem rentabilidade. Só atiraria a toalha ao chão se fosse de todo impossivel ganhar dinheiro com estas produções. O que defendo para melhorar a produtividade: visitar o número máximo de  produtores, quer em Portugal, quer no estrangeiro, sobretudo os que têm melhores resultados e aqueles que estão tecnologicamente, na gestão e organização mais avançados. Falar com técnicos, investigar na internet, ir a eventos, etc. Verifico que em cada fileira, mesmo nas menos rentáveis há produtores que ganham dinheiro. Temos de ser inteligentes e humildes e aprender com o seu exemplo, temos ser capazes de atingir e clarificar os pormenores que fazem a diferença (do ponto de vista pessoal, é mais fácil assumir que não dá dinheiro do que acreditar, trabalhar, persistir, sofrer,etc. com o objetivo de saber mais, estar melhor organizado e ser mais rigoroso na gestão). "Em alternativa tornar-se comerciante ou distribuidor de hortícolas, pois se são eles que ganham o dinheiro temos  possibilidade de ganhar com as nossas produções e as dos outros".
 2 – O futuro passará pelo o cultivo de outros produtos?
Sim o futuro, passa por ter pelo menos duas atividade principais para diminuir o risco do negócio
3 – O que faria na n/situação?
O descrito em 1 e 2.

Se quiserem saber mais pormenores estou disponivel para falar convosco numa consulta da Espaço Visual (custa 40 euros com IVA incluido. Contatar a Eng. Sónia Moreira: 917 075 852) ) e explicarei a estratégia de forma mais detalhada.

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