Dança de cadeiras



Dança de cadeiras
José Martino
Empresário e Consultor Agrícola
A suspensão das candidaturas ao ProDer e a mudança de responsável na gestão dos fundos comunitários de apoio à agricultura podem servir para fazer correr muita tinta mas são apenas a espuma dos dias.
O essencial fica sempre escondido por detrás de decisões políticas mais ou menos avulsas, mais ou menos circunstanciais. O problema de fundo continua sem solução à vista, mesmo quando estamos a falar de um envelope financeiro de 4,4 mil milhões de euros.
Enquanto se mantiver a praxis política de que temos de agradar a todos e, por conseguinte, dar dinheiro a todos, a sustentabilidade e a rentabilidade de um sector que podia contribuir para atingir, nos próximos anos, com 10% do PIB nacional, fica posta em causa.
O problema de fundo é que o sistema de atribuição de ajudas e apoios aos projectos agrícolas, chame-se ProDer ou PDR, é neutro relativamente à competência, ao perfil e à vocação de quem se candidata a esses apoios.
Ser empreendedor ou jovem agricultor não é uma qualidade que possa ser adquirida independentemente de se possuir de “per si” determinadas características e aptidões técnicas e académicas.
São esses critérios, como o de identificar alguém que tem algum histórico na agricultura ou que fez estágio em explorações agrícolas e se submeteu ao parecer de um chefe de exploração ou tutor, ou alguém que frequentou uma escola agrícola ou prestou provas públicas perante técnicos do Ministério da Agricultura, que devem avaliados por quem atribui essas ajudas.
É preciso sublinhar que estamos a falar de dinheiro público, que, na minha opinião, deve ser prioritariamente canalizado para quem demonstre que faz as coisas bem, trata-as melhor e produz nos sítios certos.
A mera troca de cadeiras pode ser muito apetecível para alimentar os bastidores da intriga política nacional, mas nunca vai resolver nada de fundo e estrutural.

Artigo de Opinião que publiquei no jornal i no dia 25 de junho de 2014

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