O eucalipto

Partilho com os leitores do blog o meu artigo de opinião, 
publicado hoje no "Diário de Notícias". 
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O eucalipto
por JOSÉ MARTINO, ENGENHEIRO AGRÓNOMO



O que têm em comum José Manuel Casqueiro, Ferraz da Costa, Carvalho da Silva, João Proença, Ludgero Marques ou Rocha de Matos? O facto de terem liderado por longos períodos grandes associações socioprofissionais, fossem elas a CAP, a CIP, a CGTP, a UGT, a AEP, a AIP. 
O problema das longas lideranças está em que o seu líder passa a confundir-se com a associação. E os seus interesses pessoais e políticos passam a estar umbilicalmente ligados à estratégia da associação que lidera. Este é um grande problema nacional. Tem raízes no nosso sistema corporativo, vulnerável a lóbis e interesses particulares.
O que se passa no associativismo agrícola? Será que os superiores interesses socioprofissionais dos sócios de cada instituição são acautelados? Os especialistas na história das agriculturas de Portugal costumam indicar como prática de longo prazo que são considerados bons dirigentes associativos aqueles que são recebidos, muito rapidamente, quase no dia-a-dia, pelos mais altos responsáveis políticos do Ministério da Agricultura e conseguem obter subsídios para as respetivas associações. Assim sendo, conseguem quase perpetuar-se à frente das associações. Este estado da arte interessa ao poder político? Certamente que sim, pois torna o associativismo mais permeável à condução conjuntural dos interesses políticos. Qual o estado da arte atual? Devo dizer, em abono da verdade, que esta situação já foi pior. Hoje, no mundo rural, onde a CAP ocupa um lugar central ao nível associativo, a liderança de João Machado é discreta e o seu protagonismo dividido com o secretário-geral, Luís Mira. Não acho mal. O que acho mal é a CAP continuar a ocupar no espaço mediático um lugar quase único no que diz respeito ao setor agrícola. A CAP tem uma longa e profícua história de defesa do mundo rural. Teve homens que marcaram a sua trajetória, como José Manuel Casqueiro e Rosado Fernandes, mas existe muito mais associativismo para lá da CAP. Pequenas associações estão a crescer com esforço e com determinação em contribuir para a economia nacional.
A RefCast, da castanha, em Vila Real, ou a AGIM, do mirtilo, em Sever do Vouga, são exemplo de tenacidade, de trabalho, de competência e de sucesso. Deviam também poder ter direito aos seus 15 minutos de fama. Seria uma justa homenagem a quem, na sombra, tem criado valor acrescentado, riqueza e postos de trabalho. É por isso falsa a imagem de que o associativismo agrícola reside apenas na CAP, que tudo seca ao seu redor. Seria, aliás, uma sugestão que deixava aqui ao presidente da CAP, João Machado, e ao seu secretário-geral, Luís Mira, fazer valer a sua influência, como associação, para fazer que os holofotes mediáticos se voltassem para outras realidades associativas.
O associativismo agrícola precisa de acompanhar os novos tempos da agricultura, tornar-se mais moderno, rigoroso e credível. Deve prestar contas, ser mais organizado, e os seus representantes devem estar sujeitos a limitação de mandatos. Cabe ao Estado legislar no sentido de adequar as regras do associativismo agrícola à luz do empreendedorismo agrícola, com o objetivo da transparência, da eficácia e do mérito.
E, porque não, a CAP assumir a realização de um congresso das associações de agricultura? No momento em que estamos a passar do ProDer 2007-2013 para o PDR 2014-2020, teria toda a acuidade organizar um evento desta dimensão.

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