Lições da Agricultura Neozelandesa
O jornal Expresso publicou em http://expresso.sapo.pt/nova-zelandia-uma-agricultura-sem-subsidios=f713851 os artigos abaixo, os quais estão em linha com o que defendo e não resisto a publicá-los e comentá-los:
1 - O banco de terras que defendo a sua implementação é uma reforma estrutural para colocar os minifúndios das regiões Norte e Centro de Portugal na agricultura de mercado. Resolvam o problema do acesso à terra e do crédito bancário a prazos e preços compativeis com a atividade que eu encontro os empresários!
2 - A Nova Zelândia rege-se pelas leis de mercado, mas controladas: como explicam que neste país só uma única Entidade, a "Zespri, Ltd", detida pelos agricultores, comerciantes e ministério da agricultura, tenha autorização para exportar kiwis? Porque quando a exportação foi livre as empresas neozelandesas concorriam entre si e geraram abaixamento de preços tornandoo negócio inviável. Conclusão: regras de mercado mas constroladas pelo interesse público através da gestão do minsitério da agricultura. Aliás, em Portugal temos um problema semelhante com as regras que a distribuição coloca aos seus fornecedores.
3 - Na Nova Zelândia em 1986, com a falência do país, o ministério da agricultura passou de 10000 funcionários para 500. Ficou com as funções de soberania e política. Qual seria o efeito de uma reforma semelhante em Portugal? Junte-se-lhe a solução neozelandesa:"Este plano tinha como medidas-chaves a redução do  endividamento, a criação de um fundo de estabilização financeira para os  agricultores e uma linha de financiamento de 50% dos gastos dos agricultores que  estavam em dificuldades, junto da banca privada.".
4 - A crise ajudou a implementação das reformas, mas temos que analisar outros pontos muitos importantes: ´
a) Estratégias de desenvolvimento económico: na primeira visita que à Nova Zelândia em 1999 este país tinha 50 quilómetros de auto-estradas porque havia uma prioridade no investimento produtivo face às infraestruturas; O cidadão comum aceitava como regra o financiamento das empresas em detrimento do financiamento do Estado; Conheci um chefe de investigação e pesquisa agrícola que tinha um orçamento de muitos milhões de dólares que podia gerir de forma discricionária, podia contratar quem quisesse pelo valor que entendesse e podia dazer os despedimentos que decidisse. O que não podia falhar os objetivos aprovados a médio e curto prazo, por exemplo, novas variedades comerciais de kiwis, macieiras, etc. Neste caso seria despedido. Etc. Etc.
a) Estratégias de desenvolvimento económico: na primeira visita que à Nova Zelândia em 1999 este país tinha 50 quilómetros de auto-estradas porque havia uma prioridade no investimento produtivo face às infraestruturas; O cidadão comum aceitava como regra o financiamento das empresas em detrimento do financiamento do Estado; Conheci um chefe de investigação e pesquisa agrícola que tinha um orçamento de muitos milhões de dólares que podia gerir de forma discricionária, podia contratar quem quisesse pelo valor que entendesse e podia dazer os despedimentos que decidisse. O que não podia falhar os objetivos aprovados a médio e curto prazo, por exemplo, novas variedades comerciais de kiwis, macieiras, etc. Neste caso seria despedido. Etc. Etc.
b) Trata-se de um país sujeito a catastrofes naturais como terramotos, tufões, etc. que criam nos seus cidadãos maior abertura para o empreendedorismo porque várias vezes ao longo da vida os seus cidadãos têm de recomeçar de novo.
c) A distãncia aos mercados obriga a maior certeza e eficiência na gestão dos investimentos      
José Alves, Territory Senior Partner da PwC  Portugal   
 "A agricultura portuguesa caracteriza-se por uma produtividade  reduzida, estando a sua rentabilidade bem abaixo do potencial. Este facto  deve-se à existência, em elevado número, de minifúndios no norte do país, onde o  terreno é mais fértil, bem como a fatores geomorfológicos, o que impossibilita a  utilização eficiente das máquinas agrícolas e, consequentemente, economias de  escala. O sul do país caracteriza-se pela predominância de latifúndios, se bem  que, em solos pobres e com pouca precipitação.   
Adicionalmente, a população agrícola portuguesa possui um  reduzido nível de formação, está relativamente envelhecida e não detém  capacidade financeira, nem motivação, para realizar investimentos inovadores que  diferenciem os seus processos produtivos dos concorrentes externos. As  cooperativas nunca surtiram o efeito desejado, devido à rigidez dos seus  estatutos, à limitada participação dos associados na administração das mesmas, à  falta de profissionalização da gestão e à reduzida capacidade de resposta às  condições do mercado, nomeadamente no que diz respeito à capacidade de  comercialização dos produtos.   
Ao invés, nos anos 80, a Nova Zelândia encetou um processo de  reformulação do sector agrícola que se tornou um exemplo de sucesso,  extremamente competitivo a nível mundial, regendo-se os produtores pelas leis de  mercado.   
Os subsídios, até à década de 70, foram a base de sustentação  da agricultura neozelandesa. Porém, perante a crise despoletada pelos choques  petrolíferos (73-79), e após a entrada do Reino Unido para a CEE (1973),  principal destino das exportações agrícolas neozelandesas, os agricultores  sugeriram ao Governo da altura a abolição dos subsídios, propondo, em  alternativa, um plano estrutural de apoio que sustentasse uma agricultura capaz  de viver num ambiente de mercado aberto.   
Este plano tinha como medidas-chaves a redução do  endividamento, a criação de um fundo de estabilização financeira para os  agricultores e uma linha de financiamento de 50% dos gastos dos agricultores que  estavam em dificuldades, junto da banca privada.   
A não existência de subsídios forçou os agricultores a serem  mais inovadores nos seus processos de cultivo, obrigando-os a unir-se em  agrupamentos ou cooperativas sectoriais únicas. Há que salientar, também, o  reajustamento da estrutura produtiva face à liberalização do mercado, com a  consequente saída do sector de vários produtores.   
Por fim, as condições geográficas da Nova Zelândia e do  próprio clima da região favorecem a prática do pastoreio, a criação de gado e a  agricultura, não tendo, Portugal, certamente, as mesmas condições naturais. Tem,  no entanto, a capacidade, que os neozelandeses tiveram, de fazer melhor do que  anteriormente.   
O papel do Estado na competitividade
| Assunção Cristas, ministra da Agricultura | 
Tenho uma ideia bem clara quanto ao futuro. O caminho a  percorrer tem seguramente três marcos: (1) organização e concentração da oferta,  (2) aumento da produção, e (3) reequilíbrio da cadeia alimentar.   
A organização e concentração da oferta são vitais para a  competitividade da agricultura. Em Portugal estamos melhor, com uma presença  importante de organizações de produtores em diversos sectores. As frutas e  hortícolas são um bom exemplo, e o aumento das exportações é o espelho do  impacto deste fator no aumento da competitividade. Precisamos de organizações  maiores e mais fortes. É isso mesmo que procuraremos conseguir, como um dos  principais instrumentos de política nos próximos fundos comunitários de apoio ao  investimento: sempre que possível, o acesso a apoios deverá ser condicionado, ou  majorado, para os agricultores que escoem a sua produção através de organizações  de produtores reconhecidas.   
Para aumentar a produção, é essencial operar a vários níveis.  Enuncio alguns em que estamos a prosseguir iniciativas concretas: meios para  investimento; facilitação do acesso à terra; aumento da área e irrigação;  rejuvenescimento do tecido empresarial agrícola. Superar estes obstáculos  facilitará o acesso à inovação tecnológica e a focalização na investigação  aplicada.   
Finalmente, é necessário reequilibrar as relações entre  agricultores, indústria e distribuição. É essencial para podermos ter mais  produtos portugueses no nosso mercado. É uma realidade a posição de fraqueza  negocial dos produtores nas relações com a indústria e com a distribuição. Esta  fragilidade pode e deve ser minimizada pela melhor organização da produção.  Paralelamente, o Governo está empenhado em promover um diálogo construtivo e  consequente. Para tal criámos a PARCA, plataforma de diálogo com um programa de  trabalhos bem definido. Foram definidas três etapas, tendo já sido alcançada a  primeira: assegurar a transparência na formação do preço; estimular a  autorregulação, nomeadamente através da criação de associações  interprofissionais; se necessário, intervir legislativamente, por exemplo ao  nível dos contratos, estabelecendo a obrigatoriedade de os celebrar por escrito  e com conteúdos definidos.   
A somar à maior presença interna dos produtos portugueses  temos a ambição de promover o aumento das exportações através de uma estratégia  clara que faça convergir o empenho de todos. Se, a médio prazo, conseguirmos  atingir a autossuficiência alimentar (em valor), então é sinal de que fomos bem  sucedidos na procura da competitividade desejada. Estou certa de que todos  juntos lá chegaremos!   
Assunção Cristas, ministra da Agricultura
O sucesso (também) no novo mundo
| Salvador Guedes, presidente da Sogrape | 
Não admira pois que, no cumprimento desta estratégia, se tenha  tornado natural, a partir do final dos anos 90, que a Sogrape entrasse no sector  produtivo de outras latitudes com elevado potencial vitícola - Argentina, Chile  e Nova Zelândia -, complementando desta forma o investimento que a empresa  também tem vindo a efetuar na área da distribuição e reforçando assim a sua  posição no mercado global.   
Esta exportação do seu processo produtivo para o novo mundo  fez-se através de aquisições de unidades que têm em comum a verticalização da  sua atividade (desde a vinha, à vinificação, engarrafamento e comercialização  dos seus vinhos), permitindo à Sogrape ganhos importantes em termos de controlo  do seu processo e um mais correto posicionamento como empresa global do sector  vitivinícola internacional.   
No caso concreto da Nova Zelândia, a geografia onde regista os  mais elevados índices de crescimento e rentabilidade, pelo elevado preço de  exportação dos seus vinhos, a aquisição em 2008 da Framingham - empresa-boutique  responsável pela produção de vinhos na famosa região de Marlborough - tem-se  revelado de primordial importância para a Sogrape ganhar prestígio e uma  crescente notoriedade de todo o seu portefólio nos mercados de maior sucesso no  panorama internacional.   
Além disso, a Framingham abriu à Sogrape a possibilidade de  produzir vinhos diferentes, com castas frescas e frutadas de climas temperados,  tais como as brancas Sauvignon Blanc e Riesling, e a tinta Pinot Noir,  acrescendo ganhos significativos de know how ao nível da viticultura, e  da viticultura orgânica em particular, muito desenvolvida nesta geografia.   
A adaptação da Sogrape à Nova Zelândia e à sua cultura foi  particularmente fácil, graças à calorosa hospitalidade e informalidade do seu  povo - os kiwis - e à grande racionalidade que revela para congregar esforços e  investimentos em busca dos melhores resultados. (Em Marlborough, por exemplo, é  comum várias empresas partilharem adegas e quase todos os produtores contratam o  serviço de engarrafamento a duas unidades da região...)   
Hoje, quatro anos volvidos, podemos dizer que a Framingham,  fruto do trabalho, do investimento e do intercâmbio de conhecimentos, é uma  aposta ganha, com a distribuição a crescer de seis para 40 mercados e a empresa  a duplicar o valor das vendas sem alterar o seu posicionamento.   
Não será por acaso, aliás, que o vinho Framingham F-Series  Riesling Auslese 2011, produzido na Nova Zelândia pela Sogrape, acaba de ser  eleito o melhor vinho desta casta numa prova cega dos maiores especialistas  mundiais, ou ser ainda considerado, pela prestigiada jornalista britânica Jancis  Robinson, o melhor vinho da região de Marlborough que alguma vez provou...   
Salvador Guedes, presidente da Sogrape
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