Manifestações de Agricultores: Para que servem?

Conversei nos últimos dias com um dirigente associativo transmontano que me dizia que a sua Associação iria participar na manifestação de hoje em Mirandela com 200 agricultores (4 autocarros). Perguntei-lhe qual era o objectivo desta Acção, o que queriam melhorar e obtive como resposta que era necessário mostrar publicamente que as coisas na agricultura vão mal. Insisti questionando sobre o que seria importante mudar. A resposta ficou dentro dos parâmetros que já indicara. Fiquei chocado com esta posição!

Para mim mais importante que dizer o que está mal, é apresentar propostas sobre o quê e como se deve melhorar. Dei comigo a pensar que, os portugueses são bons/especialistas em fazer diagnósticos e a elencar o que corre mal. Temos dificuldade em construir, em dizer como é que se faz, na implementação de estratégias que levem à fuga da rotina e do que sempre fizemos.

As manifestações são o indicativo que estamos em fim de ciclo político e a CAP pretende cavalgar a onda do descontentamento para se reposicionar melhor no futuro próximo. Para quando teremos propostas concretas sobre o que se vai fazer de melhor face ao momento actual?

Foto:FreeDigitalPhotos.net

Comentários

Miguel Pinto disse…
Se os 200 agricultores (da Associação) que se deslocaram a Mirandela para manifestar o seu descontentamento tivessem passado os olhos pelos textos deste blog, teriam duas vantagens.
A primeira, e provavelmente de efeito imediato, é que teriam identificado uma série de razões concretas para se manifestarem e até quem sabe redigirem um manifesto.
A segunda, é que teriam contribuído para a credibilização das reivindicações e descredibilização da instrumentalização política.
José Martino disse…
A limitação que existe é que muitos portugueses não gostam de ler, aceitam o "caciquismo" e os seus dirigentes associativos conformam-se com as dificuldades/limitações que sentem na sua actividade diária para implementar a mudança. Dizia-me ontem um colega que agora já não vale a pena criar novas associações porque não há ajudas do Estado para a sua manutenção. Foi nesta lógica que foram criadas um grande número de associações e confederações. Estas Entidades deveriam existir para prestar serviços na defesa dos interesses sócio-profissionais dos seus associados e por eles suportados os seus custos de funcionamento. Desta forma poderiam contestar o poder político na defesa dos superiores interesses dos seus associados. O que se passa é o oposto, o movimento associativo não pode contestar abertamente o poder político porque depende dele para o seu financiamento.
Esta onda de contestação associativa dá-se nesta altura porque este Ministro mesmo que o PS vença as eleições legislativas não continuará no cargo! A contestação não lhes trará consequências!
JRNA disse…
José Martino,

A CAP, as Associações e muitas Cooperativas, não estão a fazer maifestações agora! Começaram com elas em 2005, por causa da suspensão e posterior extinção das Medidas Agro- Ambientais!
O problema é que nesta legislatura, praticamente nada foi aceite e, na maioria dos casos, nem sequer discutido. Lembrando o Kiwi, foi efectuada uma reforma da OCM das frutas e legumes, sem que tenha havido uma única reunião sobre o assunto com os serviços oficiais, embora o sector as tenha solicitado. Propostas houve muitas... basta estar atento a todo o trabalho técnico que foi produzido ao longo destes tristes 4 anos e que foi tornado público em muitos casos. O que é que queriam? Que os agricultores tivessem levado pancada durante 4 anos e ficassem calados?

Até breve
JRNA
José Martino disse…
Como as coisas não correram bem ao longo dos últimos anos, a minha opinião é que o processo para levar a mudanças deveria ser feito de uma maneira constante e persistente durante todo o período. Se acham que as manifestações são uma das ferramentas eficazes para melhorar o que está mal na agricultura, deveriam ter sido realizadas de forma periódica ao longo dos anos. Fazer manifestações nesta altura é um excelente meio para apresentarem à opinião pública proposta concretas do que os agricultores querem que seja feito na próxima legislatura (na minha opinião será necessário acautelar que o PRODER tenha, em cada um dos anos da sua vigência, os fundos financeiros da comparticipação nacional. Isto exige uma decisão política de fundo do próximo governo de Portugal porque caso contrário, devolveremos a Bruxelas uma parte substancial das verbas do PRODER quando tiver de cumprir o défice de 3%).
JRNA disse…
A CAP e as suas estruturas andam a apresentar propostas há imenso tempo, inclusive nas manifestações, embora seja tecnicamente que elas devem ser discutidas, para serem eficazes. Quanto ao dinheiro que devolvemos a Bruxelas, se há confederação que tenha dito isso até à exaustão ao longo destes quatro anos tem sido a CAP. Existem imensos documentos públicos e datados que provam este facto.
José Martino disse…
Quais são as propostas da CAP para a próxima legislatura?
JRNA disse…
Foram apresentadas ao longo dos últimos 4 anos... a tristeza é que até há bem pouco tempo (4-5 meses), os únicos partidos que falaram de agricultura foram o PC e o CDS. O PS e o PSD nunca falaram de tal coisa!
José Martino disse…
Será que a política agrícola de Portugal se resume à aplicação de fundos financeiros?
JRNA disse…
Claro que não! Mas ajuda muito, sobretudo como motor de arranque...
José Martino disse…
Li o documento da CAP sobre "A Agricultura em Portugal - Balanço de quatro anos de (des)governação", faz mais um diagnóstico do que já se sabe. Estou verdadeiramente curioso por saber o que propõem que se faça de "forma realista" para melhorar a agricultura de Portugal nos próximos 4 anos.
José Silva disse…
Concordo em absoluto que as exigências têm que ser antes e durante: em permanência!

E com peso suficiente dirigido ao 'centro de gravidade', evitando a coloração partidária.

Neste sentido, já é importante saber (sugerir) quem são os candidatos à pasta da Agricultura.

Os números são impressionantes:

Produtotres de milho defendem apoios para o sector

http://noticias.portugalmail.pt/artigo/20090707/produtores-de-milho-defendem-apoios-para-o-sector

140.000 hectares
70.000 explorações agrícolas
110 milhões de Euros (grão)
750 milhões de Euros (silagem)
JRNA disse…
Aconselho, para além da leitura de todos os documentos sectoriais existentes e que são produzidos pelo DT da CAP, um documento mais global que foi publicado logo em 2005, intitulado "Agricultura - contributos para a competitividade do sector". Em 80% deve estar actual! Também existe um caderno reivindicativo datado de Junho de 2008 e um manifesto aos partidos de Junho de 2009, explicando o porquê das manifestações da CAP.
Quanto ao documento dos 4 anos de desgoverno, penso que nada de semelhante foi feito, sobretudo na análise do que está a acontecer aos fundos comunitários.
José Martino disse…
Irei tentar ler os documentos recomendados se estiverem disponiveis no site da CAP. Logo darei notícias....

Mensagens populares deste blogue

PODA INVERNO KIWI

Enxertia em actinidia (planta do kiwi)

VALORES DE ARRENDAMENTO PARA UMA EXPLORAÇÃO NA REGIÃO DE SANTARÉM