Que atividade agrícola escolho?


Jorge Ferreira disse:

"Boa tarde Eng. José Martino.
Estou a tentar tornar-me jovem agricultor com o meu irmão, usando um terreno que comprámos na zona de Mangualde.
O terreno tem 4 hectares, muita água (charca, açude, poço) e 13 hectares de montado para o qual submetemos um projecto PRODER
Inicialmente pensei em dividir a cultura entre hortícolas (1,5 ha), frutos vermelhos(1 ha), ervas aromáticas(1 ha).
Até agora temos sofrido uma série de constrangimentos: 
- Estamos desde Janeiro à espera da decisão das finanças para isenção do IMT por ser região desfavorecida, tornando impossível pedir licenças para obras passíveis de usar no projecto Proder caso este venha a ser aprovado em breve.
- É uma zona agrícola rodeada de Zona REN. Incêndios sistemáticos na área impedem construção de novas infra-estruturas por conta da lei de não poder construir durante 10 anos nas áreas afectadas. Só podemos reconstruir as infra-estruturas já aí existentes ou infra-estruturas básicas como estufas.
Apesar dessas e de outras dificuldades estávamos apostados em seguir em frente com o negócio.
Entretanto estava a fazer uma análise ao mercado agrícola e ao olhar para os dados do INE aí é que me assustei ao verificar que existe uma grande pulverização pelo lado da oferta. Vi também por várias publicações que encontrei em várias entidades que há muitas associações de produtores e cooperativas mas na minha zona nenhuma dedicada aos produtos que me referi inicialmente.
O que eu queria mesmo era produzir os vegetais referidos, mas dada a pequena área, será impossível concorrer com os produtores das grandes regiões. Nesse caso só mesmo a agricultura biológica seria uma mais valia, visto ser um nicho de mercado em que a mecanização será menos atractiva, e como tal a rentabilidade seria menos afectada pelo factor de escala.
Um problema com que me defrontei seguidamente foi com os mercados para os produtos biológicos.
Verifiquei que a venda dos produtos biológicos está a ser feita quase exclusivamente em feiras organizadas por empresas especializadas nesse serviço(custo adicional) ou por distribuição directa em cabazes, e que para as grandes superfícies comerciais a negociação é directa, havendo novamente a concentração pelo lado da procura e pulverização pelo lado da oferta. 
Sendo o target market para o mercado biológico as pessoas com mais poder de compra, tal faria dos grandes centros urbanos os mercados a usar para escoamento desses produtos.
Dada à interioridade da minha propriedade os custos de comercialização para esse mercado parecem-me muito grandes, já que acarretam deslocação para participação nas feiras e presença de pessoal para comercializar. Além disso o volume necessário a comercializar para rentabilizar os 4 hectares parece-me excessivo para o canal das feiras biológicas. 
Distribuição local também não me parece fazível visto que não há poder de compra para biológicos nas cidades interiores periféricas e há muita agricultura de subsistência.
Distribuição pelas grandes superfícies comerciais, é o risco da pulverização dos mercados e do produto ser desvalorizado na negociação por comparação ao da agricultura convencional e representar um pequeno volume de negócio.
Se eventualmente o mercado vier a valorizar mais a agricultura biológica no futuro e esta deixar de ser um nicho, volto a ter problemas por conta da dimensão estrutural, mas essa não é a minha preocupação actual, antes o dilema do mercado.
Qual seria a sua sugestão para este problema de mercado versus a condição de interioridade e dimensão da minha exploração?
Deveria focar-me na produção de frutos vermelhos visto que falamos de um mercado de exportação concentrado com menor perda potencial de valor na parte da distribuição?
Agradecido pela sua visão esclarecida."

 
Comentários:
1 - Aprecio a sua coragem por ter apresentado um projeto ao ProDeR. No seu lugar teria feito exatamente o mesmo: ação, ação e ação! Qualquer que seja a estratégia que utilize para os primeiros 3 anos irá sentir muitos problemas. O que é determinante para chegar ao sucesso no empreendimento, nunca desistir, resolver os problemas, pequenos, médios ou grandes, é sentir em cada dia que hoje fizemos melhor do que ontem e amanhã será melhor do que hoje mesmo que os resultados do processo ainda sejam negativos.

2 - Quem compete não são as atividades são os empresários: Já vi explorações agrícolas em atividades muito rentáveis e com conjuntura favorável, com empresários que perdem dinheiro, têm resultados negativos e o contrário, atividades e conjunturas desfavoráveis com empresários que conseguem ter lucros e ganhar dinheiro. Se o sucesso nos negócios fosse uma questão técnica todos os engenheiros agrónomos seriam os melhores empresários agrícolas e todos os economistas/gestores seriam os melhores empresários noutros ramos da economia. Todos sabemos que não é assim. Um bom empresário tem capacidade de risco, análise, decisão, sabe escolher os colaboradores, liderá-los, fazer com que os objetivos se cumpram, controlar os processos e as pessoas.

3 - Se a minha pessoa fosse o empresário colocaria toda a superfície da propriedade em hortícolas ou frutos vermelhos, conforme o acesso e valorização do mercado.

4 - Marque uma consulta junto da Eng. Sónia Moreira da Espaço Visual (917 975 852) porque um técnico experiente em investimentos agrícolas que visite a sua exploração pode ajudá-lo na escolha da atividade        
 

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