Preço Justo dos Produtos Agrícolas!

Dado que se está a discutir neste blog o preço justo dos produtos agrícolas, recomendo vivamente a leitura do excelente artigo do Dr. Pedro Pimentel, Secretário Geral da ANIL, sobre "Preços justos no seio da fileira do leite" em http://www.agroportal.pt/a/2010/ppimentel3.htm.

Comentários

José Silva disse…
.
..
O artigo é longo...

Tem 2 passagens que 'ajudam' a complicar a resposta (que não dá!)

1-Existe um grande número de explorações leiteiras, que sem praticamente alterarem a dimensão do seu efectivo, conseguem aumentar de forma razoável as suas produções. E o somatório desses inúmeros acréscimos introduz rapidamente no mercado volumes de leite adicionais que tendem a contrariar a percepção de escassez.

2-No entanto, a produção leiteira reparte-se por muitas centenas de milhares de explorações e dessa atomização resulta a percepção de que cada produtor, individualmente, não tem capacidade para fazer oscilar de forma suficiente a oferta, para condicionar o mercado, para contribuir decisivamente para a formação do preço.
E não colocando de lado a questão fundamental de saber se esse preço dado é compatível com os custos de produção, ou pelo menos com os custos marginais de produção, a um preço dado, a mais volume, a mais produção, corresponde mais rendimento.

E aí, na inexistência de instrumentos administrativos que façam condicionar a oferta, a diminuição dos volumes presentes no mercado é bastante mais lenta, com os excedentes a acumularem-se e os sinais de crise a avolumarem-se.

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Parece que ainda existem questões básicas de organização que estão a ser ignoradas: faz-me lembrar a banda sem (um bom) maestro (e sem ensaios...) em que cada um toca com 'brio e independência'.
José Martino disse…
Caro Eng. José Silva, as limitações que elenca são próprias da liberdade de produção, embora, na minha opinião, "O maestro" são as quotas de produção que criam um tecto superior que não pode ser ultrapassado, sob pena das multas serem pesadas.
José Silva disse…
Eng. Martino,

O artigo termina assim:

«Por muito que os políticos e as políticas pretendam, com as suas regulamentações, acções e recomendações, por si só resolver essa questão, dificilmente será possível pagar um preço justo ao produtor, se o mercado não pagar um preço justo pelo produto. E é fundamental que todos percebam que tão importante como o preço que o consumidor paga é o preço que é pago a quem fabrica esses mesmos produtos, porque tenhamos consciência, essas duas realidades são por vezes bem distintas.

Se conseguirmos resolver esta dificuldade, não tenho dúvidas, será possível pagar sempre e de forma sustentada um preço mais justo ao produtor…»


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A liberdade de produção só por si (com ou sem quotas) não conseguirá vencer nunca as dificuldades adicionais provocadas pela atomização resultante de muitas centenas de milhares de explorações (até custa a acreditar... será lapso?) e fazer aquilo que (no dizer do autor) têm pretendido, infrutiferamente, políticas e políticos:

«que o mercado pague o preço justo pelo produto»

Haverá organizações que o conseguem para certos produtos?

Será por isso que "Nos últimos dez anos, as três operações de resgate promovidas pelo executivo açoriano traduziram-se numa redução de cerca de 700 activos afectos à produção leiteira.
Nesse sentido, o presidente da AASM frisou que estas intervenções permitiram o reforço dos direitos
de produção atribuídos a outros lavradores e uma melhoria no dimensionamento das explorações, com benefícios para a respectiva rentabilidade."
Anónimo disse…
Lendo atentamente os comentários já produzidos, duas notas apenas: o texto em causa não foi construído como artigo de opinião, mas como base para uma intervenção realizada numa audição promovida pelo Parlamento Europeu, em Bruxelas e a mesma refere-se à possibilidade de existirem/serem praticados preços juntos no sector do leite, não em Portugal mas à escala da União Europeia.
Pedro Pimentel
José Silva disse…
.
Dr. Pedro Pimentel,

No rodapé da publicação lê-se

«Texto de apoio à intervenção proferida na Audição Pública promovida pela Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu, subordinada ao tema "Rendimentos justos para os agricultores: um melhor funcionamento da cadeia de abastecimento alimentar na Europa"»

«Nota do Editor : A audição pública dos peritos foi precedida da apresentação, pelo Relator José Bové, do Projecto de Relatório sobre rendimentos justos para os agricultores: melhor funcionamento da cadeia de abastecimento alimentar na Europa»
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Tudo isto parece dar o maior relevo possível ao papel da vossa intervenção naquelas instâncias, para que o rendimento justo para os agricultores se concretize a curto prazo.

Certamente que está numa posição privilegiada para ajudar a defender tão nobre causa, pois já em meados de 2007 nos explicava Porque é que o leite é diferente do petróleo???….

Obgº
José Silva disse…
.
..
Já agora, permita-me que chame também a atenção para um magnífico artigo seu O Confronto da Realidade do qual transcrevo a parte final:

«... São cinquenta e um (!!) pontos consecutivos, alguns deles apresentando várias denúncias sob um único 'chapéu', o que demonstra bem o efeito penalizador que estas práticas têm no tecido industrial e ao longo de todos os elos da cadeia produtiva.

Dos contactos mantidos com os responsáveis pela elaboração deste Estudo foi evidente a dificuldade em apreender a verdadeira dimensão da 'camisa de sete varas' que as pressões negociais, mais ou menos legítimas, introduzem no sector produtivo.

Perceber a importância dos instrumentos de política, nacional e comunitária no funcionamento dos mercados, a importância da correcta definição de conceitos como os de mercado relevante ou a influência do fenómeno das MDD no actual desenvolvimento da comercialização dos produtos, são fundamentais para a qualidade deste Relatório.

A forma como este trabalho está a ser desenvolvido tem, atrás e si, factores de entropia, alguns de natureza marcadamente política. As pressões para que rapidamente sejam conhecidos os resultados deste trabalho são mais que muitas e provenientes dos mais diferentes quadrantes e certamente todos nós gostaríamos que daí fossem retiradas ilações que resultassem numa melhoria, em termos efectivos, do relacionamento entre fornecedores e distribuidores. Mas como diz o povo e com razão, a pressa é inimiga da perfeição... Dê-se, pois, tempo ao tempo...
»

Obgº

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