Preço Justo dos Produtos Agrícolas!
Dado que se está a discutir neste blog o preço justo dos produtos agrícolas, recomendo vivamente a leitura do excelente artigo do Dr. Pedro Pimentel, Secretário Geral da ANIL, sobre "Preços justos no seio da fileira do leite" em http://www.agroportal.pt/a/2010/ppimentel3.htm.
Comentários
..
O artigo é longo...
Tem 2 passagens que 'ajudam' a complicar a resposta (que não dá!)
1-Existe um grande número de explorações leiteiras, que sem praticamente alterarem a dimensão do seu efectivo, conseguem aumentar de forma razoável as suas produções. E o somatório desses inúmeros acréscimos introduz rapidamente no mercado volumes de leite adicionais que tendem a contrariar a percepção de escassez.
2-No entanto, a produção leiteira reparte-se por muitas centenas de milhares de explorações e dessa atomização resulta a percepção de que cada produtor, individualmente, não tem capacidade para fazer oscilar de forma suficiente a oferta, para condicionar o mercado, para contribuir decisivamente para a formação do preço.
E não colocando de lado a questão fundamental de saber se esse preço dado é compatível com os custos de produção, ou pelo menos com os custos marginais de produção, a um preço dado, a mais volume, a mais produção, corresponde mais rendimento.
E aí, na inexistência de instrumentos administrativos que façam condicionar a oferta, a diminuição dos volumes presentes no mercado é bastante mais lenta, com os excedentes a acumularem-se e os sinais de crise a avolumarem-se.
---------------------------------
Parece que ainda existem questões básicas de organização que estão a ser ignoradas: faz-me lembrar a banda sem (um bom) maestro (e sem ensaios...) em que cada um toca com 'brio e independência'.
O artigo termina assim:
«Por muito que os políticos e as políticas pretendam, com as suas regulamentações, acções e recomendações, por si só resolver essa questão, dificilmente será possível pagar um preço justo ao produtor, se o mercado não pagar um preço justo pelo produto. E é fundamental que todos percebam que tão importante como o preço que o consumidor paga é o preço que é pago a quem fabrica esses mesmos produtos, porque tenhamos consciência, essas duas realidades são por vezes bem distintas.
Se conseguirmos resolver esta dificuldade, não tenho dúvidas, será possível pagar sempre e de forma sustentada um preço mais justo ao produtor…»
-----------------------------
A liberdade de produção só por si (com ou sem quotas) não conseguirá vencer nunca as dificuldades adicionais provocadas pela atomização resultante de muitas centenas de milhares de explorações (até custa a acreditar... será lapso?) e fazer aquilo que (no dizer do autor) têm pretendido, infrutiferamente, políticas e políticos:
«que o mercado pague o preço justo pelo produto»
Haverá organizações que o conseguem para certos produtos?
Será por isso que "Nos últimos dez anos, as três operações de resgate promovidas pelo executivo açoriano traduziram-se numa redução de cerca de 700 activos afectos à produção leiteira.
Nesse sentido, o presidente da AASM frisou que estas intervenções permitiram o reforço dos direitos
de produção atribuídos a outros lavradores e uma melhoria no dimensionamento das explorações, com benefícios para a respectiva rentabilidade."
Pedro Pimentel
Dr. Pedro Pimentel,
No rodapé da publicação lê-se
«Texto de apoio à intervenção proferida na Audição Pública promovida pela Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu, subordinada ao tema "Rendimentos justos para os agricultores: um melhor funcionamento da cadeia de abastecimento alimentar na Europa"»
«Nota do Editor : A audição pública dos peritos foi precedida da apresentação, pelo Relator José Bové, do Projecto de Relatório sobre rendimentos justos para os agricultores: melhor funcionamento da cadeia de abastecimento alimentar na Europa»
-------------------------
Tudo isto parece dar o maior relevo possível ao papel da vossa intervenção naquelas instâncias, para que o rendimento justo para os agricultores se concretize a curto prazo.
Certamente que está numa posição privilegiada para ajudar a defender tão nobre causa, pois já em meados de 2007 nos explicava Porque é que o leite é diferente do petróleo???….
Obgº
..
Já agora, permita-me que chame também a atenção para um magnífico artigo seu O Confronto da Realidade do qual transcrevo a parte final:
«... São cinquenta e um (!!) pontos consecutivos, alguns deles apresentando várias denúncias sob um único 'chapéu', o que demonstra bem o efeito penalizador que estas práticas têm no tecido industrial e ao longo de todos os elos da cadeia produtiva.
Dos contactos mantidos com os responsáveis pela elaboração deste Estudo foi evidente a dificuldade em apreender a verdadeira dimensão da 'camisa de sete varas' que as pressões negociais, mais ou menos legítimas, introduzem no sector produtivo.
Perceber a importância dos instrumentos de política, nacional e comunitária no funcionamento dos mercados, a importância da correcta definição de conceitos como os de mercado relevante ou a influência do fenómeno das MDD no actual desenvolvimento da comercialização dos produtos, são fundamentais para a qualidade deste Relatório.
A forma como este trabalho está a ser desenvolvido tem, atrás e si, factores de entropia, alguns de natureza marcadamente política. As pressões para que rapidamente sejam conhecidos os resultados deste trabalho são mais que muitas e provenientes dos mais diferentes quadrantes e certamente todos nós gostaríamos que daí fossem retiradas ilações que resultassem numa melhoria, em termos efectivos, do relacionamento entre fornecedores e distribuidores. Mas como diz o povo e com razão, a pressa é inimiga da perfeição... Dê-se, pois, tempo ao tempo...»
Obgº