Incremento de Competitividade nas Agriculturas de Portugal
Sr. Martino,
boa tarde,
Como explica
que há tantos agricultores que não conseguem ganhar dinheiro na sua atividade?
O que recomenda que se faça para ser mais competitivo?
Espero ter
oportunidade de receber uma resposta.
Obrigada
Cumprimentos,
Comentários:
1. Com o acesso livre ao mercado português pelos produtos agrícolas e agroindustriais
pelos países da União Europeia e também por países terceiros decorrentes de acordos
comerciais em que o mercado interno é dado a esses países como moeda de troca
de exportações industriais da Europa, chegam aos consumidores portugueses
produtos agrícolas e agroindustriais muito baratos, junto com qualidade e homogeneidade
que os agricultores têm muita dificuldade em fazer igual e competir.
2. A média
dos consumidores portugueses têm baixo poder de compra global, 20 a 30% dos portugueses
têm nível de rendimento em risco de pobreza e tradicionalmente, a alimentação fica
no fundo da lista como prioridade em que se investe o orçamento familiar, para
tal procuram-se produtos baratos e muito baratos, assim como as promoções.
3. Há em
Portugal forte concentração da distribuição organizada em que duas cadeias de
supermercados controlam 70% da quota de mercado e fazem-no gerindo bem os preços
baixos e as promoções. Cadeias estas que são muito exigentes na regularidade da
oferta, na logística muito organizada, precisa, quase impossível de cumprir e sobretudo,
gerem a cadeia de valor dos seus fornecedores mantendo-os como uma margem bruta
muito baixa perto da falência ou nos casos em que estes não conseguem sobreviver
aproveitam as oportunidades decorrentes de haver novos fornecedores que querem
entrar em linha quando outros deixam de o fazer.
4. A competitividade
é mais adequada na ligação ao mercado organizado e em grandes quantidades e com
criação de valor quando há excelente organização e integração entre os agricultores
e a agroindústria. Portugal é um dos países da União Europeia apresenta o
número mais baixo de agricultores integrados em Organizações de Produtores.
5. Ao nível
dos agricultores predomina a baixa escolaridade, elevado nível etário, micro e
pequenas superfícies de exploração, assim como não há praticamente não empregam
práticas de gestão com controlo de custos e análise do negócio.
6. Atendendo
ao indicado nos pontos anteriores fica a dúvida, como se explica que ainda existam
agricultores. Com o passar do tempo, estes têm diminuído em número, embora em
menor número que o expectável porque umas partes significativas exercem a
atividade em part time, outro número não negligenciável, têm outros rendimentos
que não exclusivamente os decorrentes da atividade e outro conjunto desenvolvem
a atividade por questões emocionais e de tradição, independentemente do resultado
económico. Além disso, há pelo menos 500 M€ de apoios anuais ao rendimento da
atividade que para muitos ajudam a colocar alguns equilibro mínimo, perto da
linha de sobrevivência, na conta de cultura/atividade.
7. Recomendo
que exista liderança e política de Portugal para cada uma das
atividades/fileiras das agriculturas de Portugal. Seja claro, onde está cada
uma, para onde se quer ir e quais as ações e meios a alocar para o conseguir. O poder de regulação da Autoridade da Concorrência se faça sentir junto da distribuição organizada obrigando-a a distribuir uma maior fatia de valor pelos seus fornecedores. A legislação deve impedir que as cadeias de distribuição detenham empresas de produção ou tenham marcas próprias, deve ser transparente e sem conflitos de interesse a relação comercial entre os grupos de distribuição e os seus fornecedores.
8. Na sociedade
portuguesa há falta de massa critica sobre o estado da arte, potencial e objetivos
para as agriculturas de Portugal.
9. O indicado
em 8., deficiente massa critica, explica que a agricultura não seja uma prioridade
política.
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