Vinhas e vinhos de Portugal - Efeitos do COVID-19

Sr. Martino,

Os vinhos portugueses estavam bem e com muito sucesso. Acha que a pandemia vai afetar muito esta fileira e trazer uma nova crise?

 

Comentários:

1. Tenho muitas dúvidas sobre o elevado grau do tão propalado sucesso da fileira dos vinhos na sua internacionalização e criação de valor. Há sucesso sem dúvida, há bons resultados, mas este deveria ser mais elevado e os resultados do ponto de vista médio deveriam ser muito melhores. Irei explicar a minha análise e o meu ponto de vista.

2. Conheço muitos players do vinho cujos objetivos são mais emocionais, está na moda deter quintas e marcas de vinhos, que resultado e foco na gestão económica e financeira.

3. Das análises económicas e financeiras que tenho feito à produção de uvas nas várias regiões vinhateiras do país chego à conclusão que a viticultura é pouco sustentável economicamente. Na região do Douro é onde este problema se faz mais sentir, viticultura de montanha, custos acrescidos, baixas produtividades e preços de  venda baixos face aos custos de produção.

4. As deficiências identificadas em 3. explicam a verticalização da fileira, como não se consegue ganhar dinheiro na produção de uvas passa-se para a vinificação, comercialização e distribuição de vinhos. Mesmo neste tipo de players há dificuldades em obter valor acrescentado.

5. A fileira da vinha e do vinho é das que obtém maior percentagem de apoios financeiros públicos seja para implantação de vinhas (VITIS) adegas (PDR2020), promoção e internacionalização dos vinhos (PORTUGAL2020).

6. As estruturas públicas, parcerias público privadas, associações privadas de obrigatoriedade legal,  de apoio à fileira são únicas face a outras fileiras, nomeadamente Instituto da Vinha e do Vinho, Comissões Vitivinícolas Regionais, Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, etc.

7. Em Portugal no ano de 2019 teve 24 milhões de turistas, que ajudaram ao consumo e valorização dos vinhos no segmento de mercado HORECA (hotéis, restaurantes, cafés). Este mesmo canal também é responsável em grande parte do consumo nos países destino das exportações.

8. A pandemia irá fazer um teste às empresas que têm saúde financeira das outras que não a têm. Players sairão do mercado e outros aparecerão. A crise trará problemas porque os stocks de vinhos nas adegas são elevados e aproxima-se uma nova vindima, é necessário libertar espaço de armazenagem, pelo que, a destilação de crise terá de avançar, assim como apoios ao stock privado.

9. Há toda uma nova oportunidade de explorar o mundo digital na promoção e na comercialização dos vinhos. Não se sabe como irão evoluir os negócios neste novo canal que se tornou prioritário para a rentabilidade da atividade.

10. A longo prazo, o consumo de álcool vínico terá tendência para ser limitado, simultaneamente assiste-se a melhoria da produtividade das vinhas e melhoria da qualidade dos vinhos em todas os países em que existe vinha, o que origina maior pressão sobre os mercados e consequentemente, produção de vinhos de melhor qualidade, à medida que o tempo passa a preços mais baixos.

11. Acredito na fileira das vinhas e dos vinhos de Portugal, no caminho que tem de fazer de capacitar profissionlamente os seus players, na viticultura e na adega, operadores indiferenciados e especializados, chefes de equipa, responsáveis de exploração, empresários viticultores, na comercialização e distribuição, em todas as funções com especial incodência nas de marketing, promoção, redes sociais, etc. Outro caminho a percorrer por estas fileiras é a do choque de gestão, controlo de custos, cumprimento de objetivos operacionais, obtenção de calor acrescentado que seja distribuido até montante, ao viticultor.


 


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